Apontada
como prioridade por seis em cada dez
paranaenses, a segurança pública recebeu
apenas um terço do investimento previsto
para os últimos cinco anos. Ao todo, R$
514,3 milhões que estavam orçados para
aplicação nas forças policiais deixaram
de ser usados. Segundo especialistas, os
números são reflexos da baixa capacidade
técnica para a organização e execução de
projetos. Já o governo alega que ações
foram adotadas para aumentar os
investimentos na pasta.
A situação
foi revelada pelo relatório prévio
“Contas do Governador”, do Tribunal de
Contas do Estado do Paraná (TCE).
Segundo o documento, a Secretaria de
Estado da Segurança Pública (Sesp) teve
um orçamento de R$ 777,2 milhões para
investir entre 2007 e 2011, mas empenhou
(garantia de que a verba será
efetivamente aplicada) apenas R$ 262,9
milhões desse total – o equivalente a
33% do previsto em segurança e a 5,4% do
valor geral de investimento (excluindo
custeio e formação) do governo no
período.
Levando em
consideração apenas o ano passado, o
empenho foi ainda menor: 12% (R$ 25,9
milhões de R$ 213,8 milhões previstos no
orçamento da Sesp) e 3,4% dos R$ 759,8
milhões investidos no primeiro ano da
gestão Beto Richa (PSDB).
José
Matias-Pereira, professor de Finanças
Públicas da Universidade de Brasília
(UnB), considera que os 33% empenhados
nos últimos cinco anos são um indicativo
de que a segurança pública não era
prioridade de governo. “Assim como
educação e saúde, a área de segurança
tem de ser prioritária. Um orçamento com
33% de empenho pode significar que a
área foi colocada em segundo plano”,
afirma. Levantamento do Paraná
Pesquisas, publicado no mês passado pela
Gazeta do Povo, indicou que para 61% de
1,5 mil entrevistados a segurança
pública é o principal problema a ser
enfrentado no estado.
Segundo
Luís Flávio Sapori, sociólogo da
Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC-MG) e ex-secretário da
Segurança Pública de Minas, os dados do
TCE são reveladores e se refletem na
qualidade do trabalho do policial. “É um
dado significativo e que indica
dificuldade de gestão técnica. Quando a
gestão é deficiente, a ação operacional
também é afetada. Na prática, isso
significa não dotar as polícias de
condições logísticas para execução do
trabalho”, diz.
Infraestrutura
No
relatório, os auditores do TCE citam que
a Sesp construiu apenas 2.728 m² de
90.287 m² de edifícios públicos
previstos para o ano passado, como
delegacias, Ciretrans e bases da PM.
Além disso, os auditores afirmaram “que
o governo não atingiu os objetivos
previstos para reposição dos efetivos da
segurança pública. Hoje, há 21,8 mil
policiais nas polícias do estado – o que
representa 70% das vagas ocupadas.
O
secretário da Segurança Pública do
Paraná, Reinaldo de Almeida César,
credita a baixa utilização do orçamento
da pasta ao início da gestão. “Quando
terminarmos nosso período de governo, os
investimentos em segurança pública serão
muito maiores do que a média histórica.”
De acordo
com Sapori, a alegação do início da
gestão tem sentido, mas não justifica
tão baixo empenho. “Em um primeiro ano
de governo, a tendência é ter baixa
execução. Mas esse patamar [12%] é
injustificável e realmente demonstra
baixa capacidade técnica do governo.”
Paraná
devolveu R$ 800 mil à União em 2011
Apesar do
baixo porcentual de empenho do
orçamento, o governo do estado devolveu
cerca de R$ 800 mil ao Tesouro Nacional
em 2011. Esse montante seria o
suficiente para financiar a formação de
57 novos policiais militares ou comprar
20 novas viaturas para a corporação.
De acordo
com a Secretaria da Segurança Pública (Sesp)
do Paraná, o dinheiro era destinado a
cinco projetos do Instituto de Defesa
dos Direitos Humanos (IDDAHA), mas foi
devolvido após divergências entre a
instituição e o governo sobre a forma de
contratação de fornecedores.
No portal
Gestão do Dinheiro Público, da Fazenda
do Estado, as devoluções constam como
saldos não executados do Programa
Nacional de Segurança Pública com
Cidadania (Pronasci), plano do
Ministério da Justiça que destina verba
a municípios para articulação de
políticas de segurança com ações
sociais.
Segundo o
secretário Reinaldo de Almeida César, da
Sesp, medidas foram adotadas para
garantir a alocação das verbas federais
no estado. “Criamos um escritório de
projetos justamente para acompanhar
ações de modernização e tramitação dos
recursos federais.”
Gestão
anterior
A devolução
de verbas ao Tesouro Nacional não é
exclusividade da atual gestão. Em maio
do ano passado, a Gazeta do Povo
publicou reportagem em que mostrava que
a Sesp devolveu cerca de R$ 7 milhões
aos cofres federais, verba que deveria
ter sido aplicada em programas de
combate à violência e compra de
equipamentos. De acordo com o governo
federal, nos últimos três anos, o
Pronasci destinou cerca de R$ 6 bilhões
em 94 ações que envolvem União, estados,
municípios e a própria comunidade.
Ex-secretário diz que usou toda a verba
disponível
Ex-secretário da Segurança Pública do
Paraná entre 2002 e 2010, Luiz Fernando
Delazari afirma que utilizou toda a
verba que foi colocada à sua disposição
no período em que esteve à frente da
secretaria. “O orçamento é uma peça de
encaminhamento e não significa que todo
aquele dinheiro será liberado. Na minha
administração nunca houve devolução de
recursos, pois investia tudo o que era
liberado”, garante.
Apesar de
não caracterizar devolução de dinheiro,
o orçamento não empenhado deixa de ser
garantia de financiamento de projetos.
“Quando o gestor empenha o orçamento,
ele está garantindo que poderá utilizar
aquela verba em projetos que transpassem
o ano fiscal. Agora, o que está no
orçamento é apenas uma estimativa de
receita”, explica José Matias-Pereira,
professor de Finanças Públicas da
Universidade de Brasília (UnB).
FONTE:
GAZETA DO POVO em 14/08/2012