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Consciência humana

João Carlos da Costa 

 Apesar de a população brasileira ser constituída de maioria negra e seus descendentes, o Brasil é considerado um dos mais preconceituosos do mundo. Um preconceito nem sempre visível, mas sentido por aqueles que o percebem pela forma verbal de tratamento, por olhares, preferências e atos de exclusão injustificados. São vozes singulares que se levantam a renegá-lo utilizando-se de subterfúgios para esconder  ou tentar imputar a outrem seus próprios sentimentos discriminatórios. Alguns alegam não existir, mas se não existe, como explicar então a preocupação de entidades governamentais e de outros setores em incentivar a prática de ações afirmativas mediante leis para proporcionar a igualdade de direitos, como a criação das cotas de inclusão do negro na sociedade?

Para entender melhor a questão das segregações raciais é preciso relembrar um pouco da história da colonização brasileira, que segundo narram alguns historiadores, o primeiro contato dos portugueses na chegada ao Brasil foi com os índios os quais, inicialmente, eram persuadidos a trabalhar na lavoura e na extração do pau-brasil. Foi uma tentativa frustrada porque os nativos não estavam acostumados ao trabalho forçado e não aceitavam as imposições com facilidade. Afinal, eles eram os “donos” legítimos da terra, outrora invadida. Posteriormente, com os acordos comerciais com os países europeus, que incluía o comércio de escravos, os negros foram trazidos em porões de navios, para substituir o trabalho indígena. Esclareça-se, que não era por questões raciais, mas sim para aumentar a disponibilidade de mão-de-obra na sociedade, que era escassa, pois apenas os degredados que vieram para cumprir pena e assegurar o domínio da terra executavam o trabalho pesado. Com a vinda das primeiras famílias para o Brasil, o negro passou a ser escravizado e utilizado nos diversos tipos de serviços, principalmente nos engenhos de cana-de-açúcar. Os portugueses da época, acreditavam  que índios e negros apesar de serem mais  fortes e resistentes fisicamente,  eram erroneamente considerados “raças” inferiores, sem alma nem sentimentos,  e este foi, inclusive, um dos motivos disseminadores da  discriminação  como base racial nas suas colônias, para delimitar direitos com exclusividade. Este tipo de pensamento, influenciado pelo capitalismo americano dominante na época confinou os índios em reservas e criou leis para instituir a discriminação racial, como foram os casos das leis de Jim Crow, nos Estados Unidos e do apartheid na África do Sul.

Contribuição relevante

É fato verídico que a presença do negro trouxe inúmeras influências nos costumes e na cultura brasileira. Muitas construções do período colonial existentes até hoje, foram erguidas com mão-de-obra escrava. A própria religiosidade e o cristianismo foram difundidos no Brasil pelo grande sentimento de fé e cristianismo imputado aos negros. O espírito alegre e festivo natural dos brasileiro, traduzido  pela maioria das festas tradicionais brasileiras, como o Carnaval, congadas e outras demonstram isso. Na música e também na culinária as marcas são evidentes. Tudo isso são  heranças das quais muitos usufruem e, no entanto, poucos conhecem a origem.

Ninguém nasce preconceituoso. As crianças são inocentes e puras, mas seguem orientações na vida através dos adultos que, inconscientemente lhes transmitem sentimentos odiosos e discriminatórios sem qualquer razão plausível. Um ser humano pode não gostar de outro  pela falta de intimidade, incompatibilidade de atitudes e  de gênios, desavença ou por algum motivo concreto. Isso é natural. Mas colocar a cor da pele como requisito essencial para odiar e desprezar um ser da mesma espécie é ignorância, falta de cultura e de respeito ao próximo. Não há lógica nisso.

É importante reconhecer  a grande participação  dos negros em quase todos os setores da sociedade brasileira. Não como raças inferiores, como outrora considerados, mas como cidadãos dignos como quaisquer outros que devem ter os seus direitos respeitados. É preciso que haja uma conscientização de que todas as pessoas são detentoras de direitos e deveres iguais e que ninguém é mais ou menos humano por causa da cor da pele. É inconcebível manter uma guerra nesse sentido onde se sabe que não haverá vencedores, apenas perdedores. Porque raça só existe uma: a humana. A propósito, muitos dizem que Deus é brasileiro, mas por acaso alguém sabe dizer se Ele é louro de olhos azuis ou negro do cabelo pixaim? E se for negro, alguém deixará de amá-Lo?

João Carlos da Costa

Bel. em Direito (aprovado pela OAB), Bel. Químico, Professor e Escrivão de Polícia. E-mail: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

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