Quando o PT serĂ¡ o que prometeu ser?

Plínio Bortolotti

ptprometeuPesquisa do Datafolha mostrando Lula em primeiro lugar em quatro cenários traçados pelo instituto para as eleições presidenciais de 2018 – e a queda acentuada dos candidatos do PSDB – repete o fenômeno das eleições de 2014. (O ex-presidente só perde um pouco a força com Marina Silva no cenário: em um deles, fica empatado; em outro, um ponto percentual abaixo, dentro da margem de erro.)

O que acontece é o seguinte.

A chamada “nova classe média”, os beneficiados com acesso à universidade, (incluindo a política de cotas) e os favorecidos pelos programas sociais podem estar putos com o PT. Estão frustrados com a corrupção que assolou o governo, imaginando o que mais poderia ter sido feito se a dinheirama não houvesse sido desviada.

Entretanto, eles desconfiam em demasia do PSDB, temendo que o partido faça uma limpa nos programas sociais, que acabe com direitos trabalhistas, entre outras medidas. Assim, quando os tucanos ameaçam chegar ao governo, os “de baixo” se arrepiam.

Além do mais, existe o efeito Lula. A tendência é culpar a pessoa do presidente pelos erros e acertos de um governo. E Lula deixou a Presidência com percentual altíssimo de aprovação. Portanto, se – para muita gente – Dilma é antipática ou incompetente, Lula continua sendo “o cara”.

Um amigo, jornalista, contou que o porteiro do prédio dele, com O POVO em punho, abordou-o para comentar a conjuntura política. Declarou-se decepcionado com a corrupção petista, mas repetiu o bordão “roubar todo mundo rouba” e fez sua análise: “Presidente bom mesmo era o Lula, o erro dele foi deixar aquela mulher lá”.

É claro que a eleição ainda está muito longe, em termos de tempo político, e muita coisa vai acontecer. Além de ser necessário lembrar que a chamada opinião pública é volúvel: tanto afaga quanto apedreja.

No mais, PT deveria refletir sobre quantas oportunidades seus eleitores estão dispostos a conceder-lhe para que o partido seja o que prometeu ser.

PS. Para ver a pesquisa, clique aqui. 


Brasília, a natureza das coisas

Posted:13 Apr 2016 05:43 AM PDT

Reprodução de artigo publicado na seção “Ponto de Vista”, editoria de Política, edição de 13/4/2016 do O POVO.

A natureza das coisas
Plínio Bortolotti

Como venho repetindo, em tom de brincadeira (mas nem tanto), vivemos uma semana em que é preciso ter coração forte, cabeça fria e disposição para participar de muitos plantões, como será o dia de domingo para os jornalistas do O POVO.

Se eu fosse sociólogo, para entrar na moda, diria que Vivemos tempos líquidos, em que nada é sólido, nada é feito para durar e todas as certezas se esfumam no ar. Se eu fosse poeta popular, diria que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.Claro que estamos falando de Brasília.

Conte: quantas vezes o impeachment estava nas biqueiras e depois recuou; subiu de novo e desinflou-se? Neste momento, Dilma está firme no governo ou prestes a cair, dependendo a quem se pergunte.

Eu, se fosse economista, diria que, no momento em que escrevo este texto, o impedimento está em viés de alta (mas quando o leitor deitar as mãos neste jornal já poderá ser diferente).

De qualquer modo, a partida não acabou e ainda se verá roer de unhas e se ouvirá ranger de dentes.

Os negociadores de ambos os times estão em campo. De um lado, o governo realmente existente, oferece cargos; do outro o reserva, aspirante a titular, nos brinda com um discurso salvacionista (ou seria selvático, por sua antecipação?), sem esquecer-se das promessas de um arranjo melhor para quem segui-lo, pois políticos também são filhos de Deus.

No meio da briga, o cidadão, aturdido, tenta entender o que está acontecendo e já deve estar rezando por um fim, qualquer que seja. Dizem que não há situação que não possa piorar. Mas, pelo jeito essa é uma exceção: como diria Tiririca, “pior do que tá não fica”.

PS.A citação sobre o “tempo líquido” tem como base entrevistas de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, mencionado por nove entre dez sociólogos e outros acadêmicos, qualquer que seja o assunto. O “poeta popular” é Accioly Neto, cujo trecho está na música “A natureza das coisas”, que dá título a este artigo.