Antes de matar PM, traficante foi libertado após sofrer extorsão por policiais do Bope

 Hemerson foi morto por PMs no último dia 14 Apontado como assassino de um PM do 25º BPM (Cabo Frio) durante operação em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, na semana passada, o traficante Hemerson Silveira de Souza já foi libertado após ser detido por PMs do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Na ocasião, em abril de 2013, os policiais responsáveis pela abordagem estavam à paisana e foram presos administrativamente após serem flagrados por agentes do batalhão local. À Corregedoria da PM, Hemerson — que à época não tinha mandado de prisão em aberto, mas sequer foi levado a uma delegacia — afirmou que os policiais exigiram dinheiro para não matá-lo.

Atualmente, os dois PMs que libertaram o traficante — o sargento Bruno Demke Bernardo e o cabo Cristiano Gonçalves Rosa — são réus, na Vara de Arraial do Cabo, pelos crimes de extorsão mediante sequestro e receptação. Ambos respondem ao processo em liberdade. Bernardo e Rosa chegaram a ser expulsos da corporação após o crime por decisão do comando, mas a Justiça determinou, em 2015, a reintegração dos agentes. Hoje, eles estão lotados na Assembleia Legislativa (Alerj).

Já Hemerson foi morto por policiais do 25º BPM dois dias após o homicídio do sargento Ricardo Oliveira dos Santos, em Araruama. O traficante foi reconhecido por colegas de Oliveira como um dos criminosos que atacou a patrulha. Durante revista feita pelos PMs no local após o socorro ao sargento, os agentes encontraram uma identidade falsa usada por Hemerson.

Quando o traficante foi libertado pelos policiais do Bope, os agentes que detiveram os caveiras afirmaram, em depoimento que foram abordados por uma mulher, dizendo que seu cunhado havia sido forçado por homens encapuzados a entrar num carro preto. Quando chegaram no local apontado pela mulher — conhecido como Ponta da Alcaieira, em Araruama —, os policiais flagraram Bernardo e Rosa com um carro clonado.

No momento da abordagem, os caveiras disseram que já haviam libertado Hemerson e que queriam “apenas dar um susto nele”. Já o traficante, em depoimento, afirmou que, após ter sido forçado a entrar no carro, “foi desacordado, tendo voltado a si numa praia”, onde um dos agentes anunciou que trabalhava no Bope e teria ameaçado Hemerson de morte.

O sargento da PM Ricardo Oliveira dos Santos
O sargento da PM Ricardo Oliveira dos Santos Foto: Reprodução

Comemoração com fogos

A morte de Hemerson foi comemorada pelos PMs do batalhão local. Um agente foi flagrado soltando fogos dentro da sede da 1ª Companhia do 25º BPM, em Cabo Frio, no dia em que o traficante foi morto em confronto, na favela da Figueira. Na ocasião, duas pistolas e um revólver foram apreendidos. A PM não respondeu ao EXTRA se o policial que soltou fogos no quartel foi punido pela corporação.

A Polícia Civil investiga uma possível represália do tráfico da Região dos Lagos à morte do traficante: no último dia 16 — apenas 48 horas após o homicídio de Hemerson —, outro PM do 25º BPM foi assassinado. O sargento Luiz Paulo Costa Silva foi executado com nove tiros quando deixava o batalhão após sua jornada de trabalho terminar. O carro que os criminosos usaram foi abandonado e apreendido. A polícia descobriu que o veículo foi roubado duas semanas antes do crime em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Fonte: EXTRA