WhatsApp Image 2021 12 08 at 13.52.38

Saiba quem é o traficante Peixão, chefe do Complexo de Israel que mistura assistencialismo com violência

Peixão da Cidade Alta, chefe do tráfico no Complexo de Israel — Foto: Reprodução/Portal dos Procurados Em meados de 2016, Alvinho estava obcecado com uma ideia: “Libertar o povo da Alta”, como é chamada a comunidade da Cidade Alta. Durante meses, só pensava num jeito de tomar o controle daquele conjunto habitacional em Cordovil, Zona Norte do Rio, vizinho a Parada de Lucas, favela que o traficante já controlava com uma receita básica: assistencialismo e mão de ferro.

Alvinho é o apelido de infância de Álvaro Malaquias Santa Rosa, de 34 anos, hoje conhecido como Peixão, o idealizador e chefe do Complexo de Israel, um conjunto de favelas na Zona Norte do Rio ocupado pela Polícia Militar na última segunda-feira (25) por "tempo indeterminado".

Há pouco mais de seis anos, é Peixão quem dá as cartas na região. Naquele ano de 2016, ele deixou passar as Olimpíadas do Rio, para não chamar a atenção da polícia, e invadiu a Cidade Alta.

Leia também:

De acordo com a polícia, a união dessas cinco comunidades forma o Complexo de Israel — Foto: Reprodução

De acordo com a polícia, a união dessas cinco comunidades forma o Complexo de Israel — Foto: Reprodução

Aos poucos, foi expandindo seus domínios para as favelas vizinhas como Pica-Pau e, mais recentemente, a Cinco Bocas, formando com Parada de Lucas e Vigário Geral o Complexo de Israel.

"Ele tem um perfil expansionista, é um conquistador de territórios", afirmou ao g1 o delegado Marcus Amim, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

Casa do traficante Peixão em Parada de Lucas tem academia, piscina e hidromassagem

Casa do traficante Peixão em Parada de Lucas tem academia, piscina e hidromassagem

Peixão – ou melhor, Alvinho – foi criado pela mãe, umbandista, que recebia santo (o Erê) vestida de branco, comia pipoca e doces de criança na esquina da Avenida Brasil.

Hoje adota e prega um discurso de “povo escolhido”. Mandou colocar a Estrela de Davi no topo da Cidade Alta e desenhou as bandeiras de Israel por toda parte. Seu bando passou a ser chamado de Tropa do Aarão.

Peixão mandou tirar a imagem da santa ao lado de campo de futebol na favela Cinco Bocas — Foto: Reprodução

A influência evangélica fez também com que as favelas fossem desenhadas com passagens bíblicas. Na esteira disso, veio a intolerância religiosa. Terreiros foram proibidos e imagens de santa retiradas (veja na imagem acima).

No alto da Cidade Alta, na Zona Norte do Rio, os criminosos colocaram uma estrela de Davi — Foto: Reprodução

Irmãos mortos no crime

Foi num bar da família, na beirada da favela, que ele cresceu. De pequeno, pegou o hábito curioso que mantém: o de sempre colocar azeitona em tudo que come.

Perdeu dois irmãos para o crime – ambos acabaram mortos. A irmã também se envolveu. E outro irmão, Aldo, que ainda está vivo, perdeu uma perna – contra ele, há mandado de prisão.

Na infância, dizia que não queria ser bandido. Mas se envolveu cedo. A escola pública, em Irajá, ele abandonou ainda na sétima série.

Passou a andar com os meninos do fundo da favela que já faziam favores aos traficantes. Um deles cometeu suicídio recentemente, após anos de depressão e já afastado do tráfico.

Assistencialismo e sucessão no tráfico

Brinquedos para as crianças: assistencialismo é uma das marcas de Peixão no Complexo de Israel — Foto: Reprodução

Essa transição na adolescência aconteceu no tempo em que Parada de Lucas era comandada por José Roberto da Silva Filho, o Robertinho de Lucas. Ícone do "assistencialismo bandido", deixou uma marca não só na favela que controlou, mas na própria facção Terceiro Comando Puro (TCP).

Robertinho evitava confrontos com a polícia a todo custo. Pagava propinas para não ser incomodado e fazia benfeitorias sempre tentando angariar a simpatia de moradores. Fez escola assim.

No início dos anos 2000, passou o comando de Lucas para Cauã da Conceição Pereira, o Furica ou Falcão. Robertinho acabou assassinado em 2005, num crime jamais esclarecido.

Furica, então, colocou em prática o plano de expansão dos poderes de sua quadrilha. No fim daquele mesmo ano, segundo denúncia de moradores, o traficante alugou um caveirão da PM, sequestrou e matou oito jovens na vizinha Vigário Geral. Os corpos jamais apareceram – outra marca registrada do tráfico da região.

Furica chegou a ser preso no início de 2006, mas logo foi solto. E já tinha como um de seus seguranças um menino franzino que usava radiotransmissor na cintura e uma bolsa atravessada. E foi Furica que deu início a essa relação de Peixão com pastores que perdura até hoje.

Em uma operação, a Polícia Civil matou Furica, em agosto de 2008. Em seu lugar, ficou José Carlos Lopes, o Chopp, morto em um golpe interno em 2010. A favela, então, ficou sob o controle de Ronaldo atocha Dias da Silfa, o Tião.

De acordo com investigadores, as traições internas – resultando em outras mortes de lideranças do crime na região, como Branco, Targino – fizeram com que Peixão se afastasse da favela.

Corrupção policial

Foi morar com a mãe em Maricá, chegou a trabalhar por um período - até ser capturado por policiais corruptos, segundo apurou o g1. Pagou pela liberdade e, mais tarde, voltou para a favela ao lado de Tião, que logo saiu.

Peixão não tem registro oficial de prisão nos arquivos da polícia. Sua primeira anotação criminal foi em 2015, num relatório que já o tratava como novo chefão de Parada de Lucas.

Hoje são 50 registros em sua folha, com 20 mandados de prisão por crimes como tráfico, homicídio, tortura, assaltos e ocultação de cadáver.

Ponte que liga duas comunidades do Complexo de Israel foi erguida pelo tráfico — Foto: Reprodução/Globo

As acusações de pagamento por proteção são muitas. Peixão reza da cartilha de Robertinho de Lucas e Furica nessa relação promíscua com maus policiais. E a própria invasão da Cidade Alta, em 2016, contou com certa conivência dos homens da lei.

Usando um drone para mapear o território inimigo, ele se preparou durante meses para o ataque. Tomou o controle do conjunto habitacional em outubro daquele ano. Em maio de 2017, o Comando Vermelho mandou mais de 100 homens para uma tentativa de retomada.

A PM impediu. Prendeu mais de 45 criminosos, apreendeu 33 fuzis e garantiu a Peixão a manutenção do território. Oito PMs chegaram a ser presos na época, mas o processo ainda se arrasta na Justiça.

A fuga na Dutra

Em agosto de 2017, Peixão, por pouco, não foi preso na Rodovia Presidente Dutra, quando voltava de uma viagem. No mês anterior, ele tinha viajado com a mulher, dois filhos e dois pastores para o Sul do país.

Usando o nome de Antônio Neto, ele se apresentava como empresário de jogador de futebol. Com essa identidade falsa embarcou para Florianópolis, onde fez sua primeira parada. Lá, ele e um dos pastores foram a uma concessionária de carros e compraram um Nissan Kicks zero quilômetro. E seguiram viagem.

Em viagem ao Sul, Peixão usou o nome de Antonio Neto e se dizia empresário de jogadores de futebol — Foto: Reprodução

A investigação da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) foi seguindo o rastro do bandido. Chegaram a uma pousada dias depois de ele ter deixado o local.

“Eles passaram pelo Rio Grande do Sul e chegaram a ir até o Uruguai”, conta um investigador.

Foi na volta desse passeio que os policiais chegaram perto de sua captura. Os agentes estavam em uma outra operação, no Jacarezinho, quando receberam a informação de que Peixão estava voltando do Sul. Correram para a Rodovia Presidente Dutra, prepararam uma blitz, mas Peixão conseguiu trocar de carro.

Parou num posto de gasolina, na altura de Vilar dos Teles, e entregou o Kicks para um homem de sua confiança. Quando os policiais pararam o carro, o traficante não estava dentro. O veículo estava sendo dirigindo por um policial militar. Peixão tinha entrado num outro veículo, um Linea, e escapou do cerco.

Sumiço de corpos

Quadrilha aterroriza moradores da região de Brás de Pina, Cordovil e Parada de Lucas

Quadrilha aterroriza moradores da região de Brás de Pina, Cordovil e Parada de Lucas

Um levantamento do RJ2 com moradores e policiais apontou que pelo menos 25 pessoas desapareceram nos últimos oito anos, em bairros e favelas da região do Complexo de Israel.

Alguns dos desaparecidos são pessoas inocentes, trabalhadoras, que disseram "não" para os traficantes (veja quem são as vítimas).

Policiais civis afirmam que o medo atrapalha as investigações. Muitas famílias não registram os casos. Algumas investigações levam anos pra terminar, outras nem começam.

Fonte: https://g1.globo.com/

Comentar

vetenuo

bannerdisponivel

bannerdisponivel

bannerdisponivel

bannerdisponivel

Impakto nas Redes Sociais

                                  Saiba os benefícios de usar o LinkedIn para a sua vida profissional - IFS -  Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe 

blogimpakto  acervo       jornalismoinvestigativo      Capa do livro: Prova e o Ônus da Prova - No Direito Processual Constitucional Civil, no Direito do Consumidor, na Responsabilidade Médica, no Direito Empresarial e Direitos Reflexos, com apoio da Análise Econômica do Direito (AED) - 3ª Edição - Revista, Atualizada e Ampliada, João Carlos Adalberto Zolandeck   observadh

procurados

Desenvolvido por: ClauBarros Web