PM acusado de extorquir R$ 1 milhão para soltar chefe do tráfico diz: 'está na minha mão'

 Os policiais militares acusados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) de extorquir dinheiro de traficantes, mediante sequestro, agiam também fora da área de atuação do batalhão que integravam. De acordo com a denúncia dos promotores da Operação Mercenários, desencadeada na manhã desta quinta-feira (26), que resultou na prisão de nove PMs até o momento, os policiais exigiram R$ 1 milhão de Leonardo Serpa de Jesus, conhecido como Leo Marrinha, chefe do tráfico do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho, em Ipanema. Conversas extraídas do celular de um dos policiais presos revelam que a quantia teria sido dividida entre PMs e policiais civis em um acerto para que o traficante fosse liberado depois de preso pelos agentes.

Segundo a denúncia, no dia 7 de abril de 2020, os sargentos da PM Adelmo da Silva Guerini Fernandes, Mário Paiva Saraiva, Denilson de Araújo Sardinha e o subtenente Antônio Carlos dos Santos Alves, além de policiais civis não identificados, extorquiram dinheiro para que que Leo Marrinha fosse libertado e não preso. Para se certificar de que tinha prendido o criminoso, que tinha mandado de prisão contra ele, Adelmo mandou uma mensagem por WhatsApp a um colega de farda lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Chapéu Mangueira e Babilônia, Diego da Silva Augusto, perguntando o nome do “dono do Pavão e o Galo”, ou seja, do traficante que comandava os morros do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho.

O sargento Adelmo da Silva Guerrini, apontado pelo MPRJ como um dos principais articuladores da quadrilha de PMs, em conversa com o policial Diego da Silva Ausgusto, da UPP do Chapéu Mangueira-BabilôniaO sargento Adelmo da Silva Guerrini, apontado pelo MPRJ como um dos principais articuladores da quadrilha de PMs, em conversa com o policial Diego da Silva Ausgusto, da UPP do Chapéu Mangueira-Babilônia Foto: Reprodução

Em seguida, o policial da UPP respondeu ao colega, informando o apelido do chefe da favela vizinha, além de fotos de Leo Marrinha. O sargento Adelmo confirmou a prisão do traficante com a mensagem: "está na minha mão", complementando: "está totalmente diferente". O diálogo prossegue com Diego, que o parabeniza pela prisão: “bingou bonitão”.

Um dia depois da prisão, o policial da UPP pergunta a Adelmo se “deu bom”. O sargento afirma: “bom demais”. Adelmo sonda o colega para saber se ele tem notícias da favela (Chapéu Mangueira-Babilônia, que é da área de atuação da UPP de Diego), provavelmente, referindo-se à prisão do chefe do tráfico, e pede contato de alguém do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho. Diego informa que não soube de nada a respeito e que não conhecia ninguém da comunidade vizinha.

O sargento Adelmo da Silva Guerrini, apontado pelo MPRJ como um dos principais articuladores da quadrilha de PMs, em conversa com o policial Diego da Silva Ausgusto, da UPP do Chapéu Mangueira-BabilôniaO sargento Adelmo da Silva Guerrini, apontado pelo MPRJ como um dos principais articuladores da quadrilha de PMs, em conversa com o policial Diego da Silva Ausgusto, da UPP do Chapéu Mangueira-Babilônia Foto: Reprodução

De acordo com a denúncia, os investigadores interpretaram uma mensagem que, para eles, foi "simbólica". Depois de escrever o "bom demais", Adelmo enviou um texto pelo aplicativo com o número “1” seguido da imagem de um “milho”. Além disso, o denunciado relatou que metade do valor ficou com sua equipe e a outra “metade pra PC”. Para os promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, Adelmo revela com isso que sua equipe e policiais civis conseguiram R$ 1 milhão do chefe do tráfico para não levá-lo à delegacia e prendê-lo, como determina a lei.

Na operação desta quinta-feira, o MPRJ contou com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar. As prisões de 11 policiais militares foi decretada pelo juiz da Auditoria Militar, Bruno Arthur Vaccari. Os envolvidos responderão pelos crimes de corrupção, tortura, peculato e concussão — quando um funcionário público usa o cargo para obter vantagens indevidas.

Fonte: https://extra.globo.com/