Chefe de quadrilha embarcou com mala de dinheiro em Londrina

chefe de quadrilhaPF adiou flagrantes para não comprometer as investigações contra o tráfico.
Justiça Federal condenou 17 pessoas que foram presas na Operação Ferrari.

Trechos da investigação da Polícia Federal que resultou na condenação de uma quadrilha de tráfico internacional de drogas que tinha sede em Londrina, no norte do Paraná, foram transcritos na sentença que condenou o grupo. Os detalhes foram obtidos com exclusividade pela RPC. A condenação foi o desfecho da Operação Ferrari, realizada em 2015.

Na sentença, o juiz federal substituto Alessandro Rafael Bertollo de Alexandre, da 14ª Vara Federal de Curitiba, aponta que durante o período de investigações um dos chefes da quadrilha desembarcou no aeroporto de Londrina em 2014 com uma mala carregada com dinheiro. Semanas depois, outra mala, com R$ 500 mil, passou pelo aeroporto de Campinas, no interior de São Paulo.

Fotos mostram a movimentação do grupo após deixar os aviões. Em um dos registros, em Londrina, o raio-x acusou um carregamento de notas e moedas.

O vai e vem foi monitorado por meses pela Polícia Federal, que adiou alguns flagrantes para não comprometer as investigações. Somente em meados de 2015, com as apurações concluídas, ocorreram as prisões.

A Operação Ferrari identificou uma rota que trazia cocaína da Bolívia e Peru. O negócio rendeu mais de R$ 80 milhões. Conforme a Polícia Federal, o dinheiro foi investido em empresas, imóveis de alto padrão e veículos de luxo.

Sentença
A sentença, publicada na sexta-feira (3), determina que boa parte dos bens da quadrilha seja leiloada e o dinheiro arrecadado seja destinado a órgãos públicos. A lista inclui mais de 80 veículos, inclusive importados. Há casos também de caminhões que já foram repassados aos bombeiros e um helicóptero que foi doado à polícia.

Entre os bens recuperados também estão 25 imóveis. São casas, apartamentos e empresas – inclusive, o posto de combustíveis de Cambé, que está desativado. Alguns imóveis poderão ser usados por órgãos públicos e parte do dinheiro daqueles que forem vendidos será investido em novas operações policiais. A outra parte vai para os cofres do Governo Federal.

A maioria dos acusados não conseguiu liberdade provisória durante as investigações e deve continuar na prisão.

Três dos acusados receberam as maiores condenações. Para cada um deles também foi fixada multa de quase R$ 2 milhões. Entre eles está o empresário Manoel Fernandes da Silva, dono de um posto de combustíveis na BR-369 em Cambé, também no norte do Paraná, apontado como chefe da quadrilha. No total, a Justiça condenou 17 pessoas.

A RPC entrou em contato com a defesa de um dos presos apontados como chefe do esquema, o empresário Manoel Fernandes da Silva. O advogado dele, Rômulo Augusto Fernandes Martins, informou que vai recorrer das penas aplicadas. O Ministério Público Federal ainda será intimado da decisão e só depois vai decidir se entra com recursos pedindo punições maiores para os acusados.

Investigações
A Polícia Federal montou um organograma com o papel dos traficantes: havia setores responsáveis por transporte, revenda e pagamento da droga.

Muitas negociações eram feitas por redes sociais em celulares. Para despistar, drogas eram chamadas por outros nomes, como 'chocolate'.

A quadrilha tinha como base o norte do Paraná, mas distribuía cocaína em vários estados do país. A investigação apontou que até organizações criminosas do Rio de Janeiro e São Paulo eram atendidas pelo esquema.

Denúncia
Em 18 de junho, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou 24 pessoas por crimes de tráfico internacional de drogas, organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e destruição de documentos.

Segundo os procuradores, o grupo criminoso era liderado por quatro pessoas, sendo que três delas viviam em Londrina e uma em Hortolândia, no interior de São Paulo. Ainda conforme a promotoria, a organização traficava drogas há pelo menos 10 anos.

A Polícia Federal investigou o grupo por 14 meses. Nesse período, os policiais descobriram que o núcleo fornecedor da quadrilha era de Mundo Novo (MS), a coordenação ficava em Londrina e em Hortolândia, e os revendedores em Salvador (BA) e no interior de São Paulo. De acordo com a polícia, o patrimônio da quadrilha ultrapassava os R$ 40 milhões.

Conforme a denúncia, a organização importava pasta de cocaína do Peru e Bolívia e levava a droga até laboratórios de São Paulo e Bahia. No laboratório, a pasta base era transformada em cloridrato de cocaína e só depois disso era vendida.

Os líderes do grupo transportavam o dinheiro em espécie e o liquidavam por meio de empresas de fachadas. O MPF ainda detalha que a quadrilha subornava policiais do estado de São Paulo e destruia documentos e objetos que pudessem estar relacionados aos crimes.