Vinte e cinco pessoas morrem, entre elas um policial civil, durante operação no Jacarezinho

A estação de Triagem do metrô Vinte e cinco pessoas morreram, entre elas um policial civil, num intenso tiroteio durante uma operação da corporação na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, nesta quinta-feira. André Leonardo de Mello Frias, de 45 anos, era da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) e chegou a ser levado para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte. Outros dois agentes foram atingidos durante o confronto. Uma pessoa baleada no pé, quando estava dentro de casa, também procurou atendimento no Salgado Filho. Dois passageiros ficaram feridos na estação de Triagem do Metrô, após um disparo atingir uma janela de um trem.

Até a tarde, dez pessoas haviam sido presas. O confronto na região já dura mais de oito horas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), "os Centros Municipais de Saúde Renato Rocco, Carioca e Anthidio Dias da Silveira receberam a notificação para fechamento no dia de hoje para a proteção dos funcionários e pessoas nos arredores".

Os passageiros feridos no trem são o militar da Marinha Rafael M. Silva, de 33 anos, e Humberto Gomes V. Duarte, de 20. Rafael foi levado para o Salgado Filho e deixou a unidade à revelia, segundo a Secretaria municipal de Saúde. Ele seguiu para um hospital da Marinha. Já Humberto foi levado para o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro. Seu estado de saúde é estável.

De acordo com o MetrôRio, "dois clientes ficaram feridos após o vidro de uma das composições ser atingido por projétil vindo da área externa, na altura da estação de Triagem. Uma pessoa foi ferida por estilhaços de vidro e outra atingida de raspão no braço". A concessionária informa que os dois foram imediatamente atendidos. Em razão do episódio, a operação da Linha 2 chegou a ser interrompida, mas, segundo o MetrôRio, "já foi normalizada, e o serviço na estação e nos trens funciona normalmente".

A janela estilhaçada da composição do metrôA janela estilhaçada da composição do metrô Foto: Onde Tem Tiroteio - RJ / Reprodução

Por causa do tiroteio, a circulação de trens do ramal de Belford Roxo ocorreu apenas entre as estações Del Castilho e Belford Roxo. No ramal de Saracuruna, as composições transitaram entre Bonsucesso e Gramacho e no trecho entre Gramacho e Saracuruna. A situaçao foi normalizada às 10h.

Por volta do meio-dia, um grupo realizou um protesto em um dos acessos do Jacarezinho. O comércio na região fechou e as ruas ficaram vazias.

Ação contra traficantes que aliciam crianças e sequestram trens

A operação da Polícia Civil no Jacarezinho teve como alvo uma organização criminosa que atua na comunidade e que seria responsável por homicídios, roubos, sequestros de trens da SuperVia e o aliciamento de crianças para atuarem no tráfico local. A ação foi chamada de Exceptis e é coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

De acordo com a investigação, entre dezembro de 2020 e abril de 2021, os criminosos do Jacarezinho sequestraram trens da SuperVia, numa forma de atuação que é semelhante às empregadas por grupos terroristas, destaca a polícia. A apuração da DPCA indica ainda que os traficantes expulsam moradores de suas casas, e alguns estão sendo mortos. Os corpos teriam sumido.

A investigação começou a partir de notícias recebidas pela unidade policial que levou à identificação — após a quebra dos dados telemáticos autorizados pela Justiça — de 21 integrantes do grupo criminoso. Todos eles, de acordo com a polícia, responsáveis por garantir o domínio territorial da região com o uso de armas.

A DPCA identificou que há, no Jacarezinho, uma estrutura típica de guerra, com centenas de "soldados" armados com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e outros acessórios militares. Segundo a delegacia, a favela é considerada um dos quartéis-generais da maior facção criminosa do estado.

Segundo a Polícia Civil, na casa onde pelo menos oito suspeitos estavam, e que foram mortos, era o local onde as crianças cooptadas pelo tráfico eram treinadas para usarem pistolas e fuzis para atuarem no Jacarezinho. Os investigadores afirmaram que, quando eles chegaram à residência, foram atacados e revidaram.

A polícia destacou ainda que há dificuldade de agir no Jacarezinho por causa das barricadas instaladas por traficantes e das táticas de guerrilha usadas pela quadrilha.

Defensoria acompanha ação policial

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro disse em nota que "está acompanhando com muita atenção os desdobramentos da operação policial". "Neste momento, a instituição está no local, por meio de sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas. Desde já, manifestamos nosso pesar e solidariedade aos familiares de todas as vítimas de mais essa tragédia a acometer nosso estado", disse o órgão estadual, em nota.

Paes: 'Dificuldades que a gente tem'

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, comentou a situação do Jacarezinho durante o evento de lançamento do Conselho da Cidade, na manhã desta quinta-feira. Ele chamou as cenas veiculadas pela TV de "transmissão ao vivo dantesca". Se referiu ao episódio como "o crime reagindo", e mencionou "dificuldades que a gente tem nesse sistema".

Fonte: https://extra.globo.com