lIVRAMENTO – DESABAFO DE UMA ESCRIVÃ EXONERADA POR NÃO SUPORTAR ASSÉDIO MORAL E A CORRUPÇÃO 6

2356 Estou em luto.

Não por ter pedido exoneração da NADA Gloriosa PCSP, mas sim por não ter tomado uma atitude antes.

Tentei. Tentei muito vencer com meu trabalho, com minha dedicação. Ilusão.

O sistema não se interessa por bons profissionais, tudo o que eles não querem são bom profissionais.

Querem os dóceis, de preferência os mudos cumpridores de ordens.

A polícia não está a serviço da população.

A polícia trabalha para si.

Para manter egos, privilégios e charutos cubanos.

Não menosprezo os muitos bons policiais que assim como eu, tentam.

Pelo contrário.

Por esses eu sinto. Eu sei que dói.                        

Essa mensagem é direcionada a essa gente que nem parece ter nascido.

De certo foram cuspidos do ventre seco do desamor.

Cada uma dessas sementes abortados saberá que esse texto as pertence.

Não se importarão, eu sei, estão demasiadamente entretidos lustrando suas coroas.

Ainda não perceberam que a coroa não é de ouro e sim de espinhos.

Um salve aos reis de coisa alguma.

Não me curvo a vocês.

Nunca me curvarei.

Vocês não podem me atingir.

Ainda que me alvejem, não me acovardo.

Não me omito.

Não lhes dou palanque.

A corregedoria que, efetivamente nada de efetivo corrige, pode relinchar a vontade.

Continuem encenando seriedade enquanto carros importados desfilam nas pomposas sedes.                              Costumamos usar o termo “sistema” para abrandar a realidade.

Quem dá a luz ao sistema são pessoas.

Então, meus caros, não é o sistema que é podre, vocês são.

É podre o que ordena o corte das cabeças e é fraco aquele que cumpre as ordens.

Assim Cristo foi crucificado: pela ação e pela omissão.    

Entendo as congratulações que alguns me deram mas não há coragem nenhuma em minha ação.

Eu pude fazer. Sei que muitos não podem.

É certo que talvez eu fizesse de qualquer forma porque não se doma bicho selvagem.

Meu falecido pai jamais se curvou e a ele dedico minha resistência.

Não sucumbi, pai.

Eles tentaram dizer que mulher na polícia ou é puta ou é nada.

Pois a mulher não se curvou.

Pois a mulher entrou de cabeça erguida, fez seu trabalho de cabeça erguida e saí de cabeça erguida.                               Ao pífio ser (ao qual não me recordo o nome…

João de alguma coisa) que me disse antes de eu sair “esse mandado de segurança não vai dar em nada” eu retruco tardiamente: seu tirocínio está muito ruim.

Antes de qualquer sentença eu já tinha meu veredito.

Ganhei minha dignidade, minha liberdade.

Você está acostumado com preço, não com valor, logo, talvez não consiga mensurar o que lhe digo.

Muitas autoridades têm dificuldade de entender o significado da palavra valor.

Mas… que a vida lhes ensine… ou não.

Essa conta não é minha e essa história não mais me interessa. 

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Meus comentários:

Dia 3 de maio, deste mês de maio, fui demitido do cargo de delegado, 23 anos de carreira, desde os meus 27 anos de idade.

Por conta de não me curvar para o erro, a estupidez, a incompetência e, sobretudo, por me recusar a servir à corrupção institucionalizada.

Vivo muito bem, grande parte do tempo alegre.

Mas não sou um homem feliz.

Sofri grandes injustiças e as feridas são profundas.

Mas te garanto , pra quem é honesto e tem um bom nível intelectual, a vida só melhora para quem deixa a Polícia Civil.

Seja muito feliz e tente enterrar os ressentimentos.

Se você me autorizar gostaria de publicar o seu depoimento, sem mencionar o seu nome no Flit Paralisante.

Abraços, foi uma honra receber e ler a sua mensagem.

Fonte: https://flitparalisante.wordpress.com