Grupos no app Telegram violam leis e abrigam negociações de drogas, armas, pornografia infantil e outros crimes

1 A reportagem especial deste domingo (13) investiga o universo nebuloso de um dos aplicativos de troca de mensagens mais populares do mundo. Instalado em mais de 1 bilhão de celulares, o Telegram é alvo de denúncias de propagação de discursos de ódio e divulgação de informações falsas.

Os repórteres do Fantástico também encontraram tráfico de drogas, comércio de dinheiro falso, propaganda nazista e até venda de certificados de vacinação -- tudo circulando livremente pela plataforma.

No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral já manifestou preocupação com o impacto que o Telegram pode ter nas próximas eleições. Mas afinal, o que está por trás desse aplicativo que atrai seguidores poderosos e coleciona polêmicas? Veja mais detalhes na reportagem acima.

O aplicativo foi lançado em 2013 e já atingiu a marca de mais de 1 bilhão de downloads em todo o mundo. O Telegram foi criado por Pavel Durov, com a missão de ser um app que protegesse a liberdade e a privacidade dos usuários que trocassem mensagens através dele. Com a criação de canais, onde 200 mil participantes, especialistas avaliam que o app se distanciou de um mensageiro, como o WhatsApp, e se aproximou de uma rede social, como o Facebook, Twitter e Instagram.

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Prós e contras

As funções do Telegram, somadas aos valores de anonimato, privacidade e liberdade pregados pelo app, permitiram que se criasse um ambiente seguro para ativistas. Nos últimos anos, em Hong Kong ou Belarus, usuários pró-democracia conseguiram driblar os regimes autoritários e trocar informações sem serem perseguidos.

Agora, o mesmo ocorre na Ucrânia. O aplicativo tem sido usado por moradores e autoridades ucranianas como um canal protegido de troca de informação. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky tem seu próprio canal, com mais de 1 milhão de inscritos, por onde envia discursos e informações sobre ataques. O Telegram também é usado por russos que querem burlar a censura do governo de Vladimir Putintwitter sobre os meios de comunicação.

No entanto, esse ambiente virtual, com suposta garantia de privacidade e anonimato, também encheu os olhos de quem não tem boas intenções. Em vários países, como aqui no Brasil, o aplicativo passou a ser usado de forma massiva por criminosos. Veja a relação de crimes flagrados pela reportagem do Fantástico nos grupos monitorados:

  1. Estelionato
  2. Propaganda neonazista
  3. Pornografia infantil
  4. Venda de armas sem registro
  5. Venda de drogas
  6. Venda de notas de dinheiro falsas
  7. Falsificação de documentos
  8. Falsificação do certificado de vacinação contra a Covid-19

Um dos golpistas se apresenta como "professor de estelionato" oferecendo um "curso de golpes". São incontáveis os anúncios oferecendo dicas de fraudes e bancos de dados com informações de brasileiros para facilitar a prática de golpes. O criminoso se orgulha do ofício, em áudio:

Quem dá golpe acorda cedo, malandro. Quem dorme muito, fica liso, tá duro. Bota isso na sua cabeça."

"Professor de estelionato" diz que "quem dá golpe acorda cedo" — Foto: Reprodução/TV Globo

Preocupação para as eleições

A desinformação que circula pelo Telegram está na mira do Ministério Público, que abriu uma investigação pra apurar táticas organizadas de disparos de fake news. O inquérito, aberto no ano passado, já tem mais 6 mil páginas. Os procuradores questionaram sete aplicativos sobre as ações desenvolvidas por eles pra coibir crimes.

A epidemia de informações falsas ainda pode impactar o cenário eleitoral. Uma pesquisa realizada pelo Senado aponta que na última eleição presidencial 45% dos entrevistados decidiram o voto com base em informações vistas em redes sociais. E 47% responderam que acham difícil identificar as fake news.

Nesta semana, a mais alta corte da Justiça Eleitoral do país -- o TSE -- tentou contato com o Telegram, mas não obteve resposta. Não foi a primeira vez. No ano passado, o Tribunal enviou um ofício à sede da empresa.

Em um vídeo enviado ao Fantástico, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral -- e ministro do Supremo -- Luiz Edson Fachin -- disse que espera uma postura de diálogo da empresa. Ele contou que uma das preocupações da Justiça com o aplicativo é a possibilidade de disparos em massa de fake news.

O voto é a expressão livre e consciente da vontade do eleitor. É necessário que seja assim, é necessário que o consentimento do eleitor não seja capturado de forma criminosa, por meio da deturpação de fatos e circunstâncias que levem precisamente a essa pirataria que se dá num mundo sem leis. O Brasil tem regras sobre isso. Tive com o pronunciamento do próprio Congresso Nacional e a Justiça Eleitoral estará atenta, eis que disseminar fato que sabe inverídico é nos termos da legislação eleitoral um delito.

— Ministro Edson Fachin, presidente do TSE

Para as eleições deste ano, o TSE criou um programa de enfrentamento à desinformação. Mais de 80 aplicativos e sites toparam participar. O único que sequer se manifestou foi o Telegram.

Fonte: https://g1.globo.com