O inspetor da Polícia Civil que confessou ter matado a tiros quatro colegas em uma delegacia em Camocim (CE), cidade a 350 quilômetros de Fortaleza, premeditou o crime e o realizou enquanto estava de folga. É o que aponta a investigação da DAI (Delegacia de Assuntos Internos), responsável pelo caso.
Antônio Alves Dourado, 44, foi preso em flagrante pelo crime de homicídio qualificado contra as quatro vítimas. Nesta segunda-feira (15), ele passou por audiência de custódia e teve a prisão convertida em preventiva.
Ainda segundo a Polícia Civil, a defesa de Dourado sustenta que o inspetor apresentou um atestado de 15 dias de afastamento por problemas psicológicos ligados diretamente ao exercício da profissão. A corporação, no entanto, nega ter recebido tal documento. A polícia não informou à reportagem quem é o responsável pela defesa do inspetor.
"Não foi recebido atestado médico ou qualquer outra documentação solicitando afastamento do servidor no Departamento de Gestão de Pessoas. O policial tinha conhecimento dos trâmites de pedidos de licença, visto que consta em seus registros funcionais três licenças para tratamento de saúde —sendo duas por problemas na coluna, em 2019, e uma para tratamento de Covid-19, em 2022", informou.
A corporação disse ainda que disponibiliza o Departamento de Assistência Médica e Psicossocial que presta assistência médica e psicossocial a todos os policiais civis e colaboradores.
Segundo a investigação, o suspeito pulou o muro da delegacia durante a madrugada de domingo (14) e matou os escrivães Francisco dos Santos Pereira, 46, Antônio José Rodrigues Miranda, 43, e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira, 36. Os três estavam dormindo.
Outro policial tentou fugir, mas também recebeu tiros e morreu. O escrivão Antônio Cláudio dos Santos, 46, teria pulado da varanda do prédio para a garagem em tentativa de fuga, mas foi baleado nas costas.
Após o crime, o inspetor fugiu em uma viatura e foi para casa, de onde fez um vídeo relatando o crime. A Polícia Civil informou que tomou conhecimento da gravação.
Em seguida, o próprio policial acionou os órgãos de segurança e foi preso em casa. Dourado foi encontrado em sua residência utilizando as próprias algemas e se entregou.
Ele foi levado ao quartel da Polícia Militar da cidade e, em seguida, transferido para a Penitenciária Industrial de Sobral onde segue preso.
As vítimas foram sepultadas nesta segunda. Antônio Cláudio e Antônio José foram enterrados em Camocim. Já Francisco Pereira foi levado para um cemitério em Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. O inspetor Gabriel Ferreira foi sepultado em Teresina, no Piauí.
Em homenagem aos colegas, equipes de segurança pública do estado posicionaram viaturas em frente suas respectivas delegacias e tocaram sirenes por um minuto, além de cortejos.
Em nota, a Polícia Civil lamentou o episódio e disse que realiza todo o suporte necessário para os familiares e amigos das quatro vítimas.
O governador Elmano de Freitas (PT) afirmou em suas redes sociais estar consternado com o crime. "Manifesto a minha solidariedade às famílias, amigos e profissionais da Segurança Pública do Estado. O Governo do Ceará dará todo o apoio necessário aos familiares das vítimas."
QUEM ERAM AS VÍTIMAS
Antônio Cláudio ingressou na Polícia Civil no ano de 2013 E prestou serviços nas Delegacias de Sobral e Chaval. Atualmente, o profissional estava lotado na Delegacia Regional de Camocim.
O escrivão Antônio José Rodrigues Miranda fazia parte da corporação desde 2011. Ele prestava serviço na Delegacia Regional de Camocim, onde estava lotado desde a sua admissão. Ainda com base no seu registro, antes de ser policial civil, Miranda trabalhou ainda como Guarda Municipal de Camocim.
Já o escrivão Francisco dos Santos Pereira, conhecido pelos colegas policiais como "Chicão", trabalhou na Polícia Civil durante 12 anos. Francisco prestou serviços na Delegacia Municipal de Granja e na Delegacia Regional de Camocim. Em seu registro, constavam elogios pelo excelente serviço prestado, bem como pelo bom atendimento ao público.
O inspetor Gabriel de Souza, era natural do Piauí, entrou para a Polícia Civil em 2013, onde atuou nas Delegacias de Ibiapina, Tianguá, Jijoca de Jericoacoara e Camocim.
