Uma advogada virou foco de investigação após ter sido flagrada com cocaína dentro da Penitenciária Modulada Estadual de Montenegro, no Vale do Caí, na última quinta-feira. De acordo com a Polícia Penal, o entorpecente seria entregue a um apenado. Esta foi a segunda prisão em flagrante da mulher com ilícitos em uma casa prisional.
Nesta manhã, o presidente da OAB/RS, Leonardo Lamachia, conversou com a reportagem e disse que as medidas cabíveis já foram adotadas.
“Assim que tomei conhecimento dos fatos, no dia da prisão, mandei abrir processo ético, o qual foi aberto naquele dia mesmo e já marcada sessão do Tribunal de Ética visando a suspensão preventiva da advogada”, garantiu o presidente da OAB/RS.
O flagra em Montenegro ocorreu graças ao trabalho dos policiais penais da unidade, que suspeitaram do comportamento atípico da jurista enquanto ela estava no parlatório. No contexto prisional, o espaço é destinado para que advogados façam o atendimento de clientes, porém, ao invés de prestar serviços jurídicos, a profissional tentava entregar porções de narcóticos a um detento.
Na estimativa dos agentes penitenciários, cerca de um quilo de cocaína foi apreendido na ocasião. A droga estava distribuída em papelotes e embalagens, algumas escondidas por debaixo das vestes da advogada e atadas junto ao seu corpo.
Além disso, conforme a Polícia Civil, ainda foram encontrados aproximadamente R$ 10 mil em espécie no interior de um automóvel que seria da mulher e que estava no entorno da penitenciária. Não é descartado que o montante seja oriundo do tráfico de drogas.
A advogada foi detida em flagrante e encaminhada ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre. No dia seguinte, em audiência de custódia, a prisão dela foi mantida.
Há menos de quatro anos, em 27 de outubro de 2021, a advogada protagonizou outra situação do tipo. O caso ocorreu na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC), quando ela foi presa com 21 telefones celulares, 15 carregadores, 17 cabos USBs, 16 fones de ouvido, um estilete e uma chave de fenda, no banheiro do lugar.
Na madrugada do dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal, por pouco, muito pouco, Brasília não foi alvo de um terrível atentado. Nas imediações do aeroporto, um caminhão-tanque estava estacionado num local estratégico, próximo aos imensos reservatórios de combustível. Debaixo dele, acoplado em um dos eixos do veículo, havia uma caixa de papelão, com algumas bananas de dinamite dentro, ligadas a um detonador. O artefato foi colocado por dois autoproclamados apoiadores de Jair Bolsonaro, imaginando que a explosão provocaria uma convulsão popular que obrigaria o presidente da República a recorrer às Forças Armadas para restabelecer a ordem e a anunciar medidas extremas para, entre outras coisas, impedir a posse do presidente Lula. O caminhão-bomba continha mais de 60 000 litros de querosene de aviação. A bomba, que certamente provocaria uma tragédia sem precedentes, não explodiu porque o detonador falhou. Na sequência, a polícia foi acionada e os criminosos, presos.
No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, apresentou um vídeo com uma sequência de imagens dos distúrbios ocorridos em Brasília após as eleições de 2022. Algumas das cenas eram relativas ao caminhão-tanque e à atuação dos investigadores no local. “Se explodisse a bomba, centenas — se não milhares — de pessoas morreriam”, destacou o magistrado. Nos próximos dias, o delegado que investigou o atentado e prendeu o responsável pela confecção da bomba deve ser colocado frente a frente com Moraes. Marcelo Fernandes será intimado a depor no processo que tramita no STF, arrolado como testemunha de defesa de um dos acusados, o general Mario Fernandes, peça-chave da trama que teria sido orquestrada para subverter a democracia. Por uma dessas ironias do destino, o delegado que evitou a tragédia do carro-bomba em Brasília é irmão do general acusado de participar ativamente da mesma aventura golpista.
Mario Fernandes era próximo de Jair Bolsonaro, ocupou um posto importante no Palácio do Planalto na reta final do governo do ex-capitão e foi autor de um suposto plano para “neutralizar” o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Acusado de conspirar contra a democracia, o militar está detido preventivamente numa sala de um Batalhão do Exército desde novembro. Se condenado, pode pegar até quarenta anos de prisão. A defesa do general acredita que o depoimento do delegado vai ajudar a mostrar que a conspiração não existiu — ou, se existiu, que o militar não participou dela. Segundo a Procuradoria-Geral da República, Mario Fernandes redigiu o plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo” no computador da sala que ocupava no Palácio do Planalto. Depois, imprimiu uma cópia do documento no mesmo dia em que teve uma reunião com o presidente no Alvorada. Os investigadores acreditam que a cópia foi entregue a Bolsonaro.

O general ainda não expôs publicamente sua versão sobre a acusação. Sabe-se, no entanto, que ele nega ter apresentado o plano golpista ao presidente. A reunião no Alvorada no mesmo dia da impressão do documento teria sido uma coincidência. Em relação ao “Punhal Verde e Amarelo”, justifica que era apenas uma avaliação de cenário para o caso de um conflito — análise, segundo ele, que é praxe no meio militar. A defesa de Mario Fernandes avalia que o depoimento do irmão vai ajudar a desmantelar a tese de que o general é um extremista. Como os dois são muito próximos, não haveria lógica em considerar que um deles planejou o golpe enquanto o outro agiu para evitar que o pior acontecesse. No dia 24 de dezembro, Marcelo foi acionado diante de um alerta de bomba no aeroporto, encontrou a caixa com os explosivos, localizou o caminhão suspeito e prendeu o autor do atentado fracassado, o gerente de posto de gasolina George Washington de Sousa, que guardava com ele um arsenal.
Alexandre de Moraes já recusou o pedido de libertação feito pela defesa de Mario Fernandes, que se diz injustiçado. “Ele jamais atuou para colocar a vida de quem quer que seja em risco”, afirma o advogado Marcus Vinícius Figueiredo. Preso há quase 200 dias, o general recebe pouquíssimas visitas — basicamente de familiares. Marcelo, por sua vez, assumiu a chefia da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais. É uma repartição da Polícia Civil responsável por investigar casos de estelionato e golpes — financeiros, diga-se. Nada parecido nem tão grave quanto o que aconteceu na véspera do Natal de 2022.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946
Delegado do AM, policiais e vereadora são presos pela PF por sequestro e tortura de homem em Roraima
Prisões ocorreram na manhã desta quinta-feira (22) no Amazonas e em Roraima. Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação também cumpriu outros mandados de prisão temporária e de busca e apreensão na Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Alvos da PF (da esquerda para a direita, no sentido horário): delegado Adriano Félix, vereadora Adriana, o empresário Lidivan Reis, agente Álvaro Tibúrcio, agente Edmilton Freire, PM Jan Elber, e o empresário Matheus Possebon — Foto: A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (22) o delegado da Polícia Civil do Amazonas Adriano Félix Claudino da Silva, a vereadora Adriana Souza dos Santos, e outro três policiais por envolvimento no sequestro e tortura de um homem em Roraima. A ideia deles, segundo a PF, era roubar uma carga de cassiterita extraída ilegalmente da Terra Indígena Yanomami.
(CORREÇÃO: o g1 errou ao informar que o empresário Matheus Possebon havia sido preso na operação. Na verdade, ele não foi localizado e permanece foragido. A informação foi corrigida às 10h03 de sexta-feira, 23).
A lista completa de presos inclui:
- Adriano Félix Claudino da Silva - delegado da Polícia Civil no Amazonas;
- Álvaro Tibúrcio Steinheuser - policial civil no Amazonas;
- Edmilton Freire dos Santos - policial civil no Amazonas;
- Lidivan Santos dos Reis - empresário do ramo de venda de carro e investigado por tráfico de drogas em outra ação;
- Jan Elber Dantas Ferreira - policial militar em Roraima;
- Adriana Souza dos Santos - vereadora no município de Caracaraí, no interior de Roraima, e escrivã da Polícia Civil de Roraima.
O empresário do ramo artístico musical, Matheus Possebon, também é investigado e teve mandado de prisão temporária expedido pela Justiça, mas não foi preso e está foragido. Ele já foi preso pela PF na operação Disco de Ouro, que também teve como alvo o cantor Alexandre Pires, por ligação com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
O g1 tenta localizar a defesa de todos os investigados.
As investigações apontam que os envolvidos formaram um grupo criminoso para escoltar cargas de minérios extraídos ilegalmente da Terra Indígena Yanomami, prestar serviços de segurança de forma clandestina e apurar a ocorrência de roubos de cargas de forma paralela à atuação estatal.
O sequestro aconteceu no município de Caracaraí, em fevereiro de 2023. À época, a Polícia Militar informou que a vítima estava trabalhando quando foi algemada, ameaçada e agredida com tapas e choques elétricos (entenda mais abaixo).
Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação da PF desta quinta cumpre sete mandados de prisão temporária e 13 de busca e apreensão em Roraima, Amazonas, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. Eles foram determinados após investigações com participação direta da Promotoria de Justiça de Caracaraí.
De acordo com a PF, na busca de um suposto roubo de cassiterita, os policiais do Amazonas sequestraram e torturam o homem para que ele indicasse o destino da carga. As investigações apontam a participação de policiais de Roraima em apoio aos do Amazonas.
Sequestro e tortura
Os crimes aconteceram no dia 8 de fevereiro de 2023 na vicinal 3, em Caracaraí, localizado ao Sul de Roraima. A vítima sofreu lesões nos pulsos e marcas de tapas no peitoral. Além disso, ele sofreu choques na região do tórax.
À Polícia Militar, o pai da vítima relatou que estava trabalhando em um terreno com o filho quando um carro parou no local e três homens desceram do veículo. Segundo o relato, os homens se identificaram como policiais civis e um deles perguntou a localização da vicinal 4, onde estaria ocorrendo uma briga. Por conta disso, em uma motocicleta, a vítima os acompanhou até o local.
No entanto, quando chegou ao local indicado, o homem foi algemado e ameaçado com tapas e choques elétricos. Além disso, os suspeitos afirmaram que incendiariam a motocicleta dele caso não colaborasse.
Com a vítima, eles seguiram até o município de Iracema e posteriormente seguiram para Mucajaí. Dentro do carro, a vítima foi pressionada a cerca de alguma informação sobre um caminhão graneleiro que, segundo os suspeitos, foi furtado e transportava cassiterita, um metal usado para produzir ligas.
Durante o interrogatório, outros três homens chegaram ao local e informaram que pertenciam ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Na ocasião, eles pegaram o celular da vítima para averiguar se ele estava envolvido no caso ou se tinha informações sobre o paradeiro de um outro homem.
Ao fim da ação, eles liberaram a vítima e, inclusive, lhe deram R$ 60 para que ele pegasse um ônibus rodoviário e retornasse para Caracaraí. Os dois policiais do Amazonas foram presos à época, após serem denunciados.
Um ex-policial militar do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais do Rio De Janeiro, foi preso nesta semana durante uma ação contra o tráfico de drogas. Ronny Pessanha de Oliveira, conhecido como “Caveira”, é acusado de usar sua experiência como policial de elite para treinar integrantes da segunda maior facção criminosa do país. Ele ensinava desde o manuseio de armas até táticas de guerrilha, de forma a garantir que os criminosos soubessem como enfrentar os rivais e as forças de segurança. Ronny foi detido na comunidade da Muzema, zona oeste do Rio, durante operação integrada das polícias Civil e Militar contra a dominação da região.
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