A ligação entre delegado que investigou atentado no aeroporto e o general de trama golpista

oc0602 Na madrugada do dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal, por pouco, muito pouco, Brasília não foi alvo de um terrível atentado. Nas imediações do aeroporto, um caminhão-tanque estava estacionado num local estratégico, próximo aos imensos reservatórios de combustível. Debaixo dele, acoplado em um dos eixos do veículo, havia uma caixa de papelão, com algumas bananas de dinamite dentro, ligadas a um detonador. O artefato foi colocado por dois autoproclamados apoiadores de Jair Bolsonaro, imaginando que a explosão provocaria uma convulsão popular que obrigaria o presidente da República a recorrer às Forças Armadas para restabelecer a ordem e a anunciar medidas extremas para, entre outras coisas, impedir a posse do presidente Lula. O caminhão-bomba continha mais de 60 000 litros de querosene de aviação. A bomba, que certamente provocaria uma tragédia sem precedentes, não explodiu porque o detonador falhou. Na sequência, a polícia foi acionada e os criminosos, presos.

No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, apresentou um vídeo com uma sequência de imagens dos distúrbios ocorridos em Brasília após as eleições de 2022. Algumas das cenas eram relativas ao caminhão-tanque e à atuação dos investigadores no local. “Se explodisse a bomba, centenas — se não milhares — de pessoas morreriam”, destacou o magistrado. Nos próximos dias, o delegado que investigou o atentado e prendeu o responsável pela confecção da bomba deve ser colocado frente a frente com Moraes. Marcelo Fernandes será intimado a depor no processo que tramita no STF, arrolado como testemunha de defesa de um dos acusados, o general Mario Fernandes, peça-chave da trama que teria sido orquestrada para subverter a democracia. Por uma dessas ironias do destino, o delegado que evitou a tragédia do carro-bomba em Brasília é irmão do general acusado de participar ativamente da mesma aventura golpista.

Mario Fernandes era próximo de Jair Bolsonaro, ocupou um posto importante no Palácio do Planalto na reta final do governo do ex-capitão e foi autor de um suposto plano para “neutralizar” o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Acusado de conspirar contra a democracia, o militar está detido preventivamente numa sala de um Batalhão do Exército desde novembro. Se condenado, pode pegar até quarenta anos de prisão. A defesa do general acredita que o depoimento do delegado vai ajudar a mostrar que a conspiração não existiu — ou, se existiu, que o militar não participou dela. Segundo a Procuradoria-Geral da República, Mario Fernandes redigiu o plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo” no computador da sala que ocupava no Palácio do Planalto. Depois, imprimiu uma cópia do documento no mesmo dia em que teve uma reunião com o presidente no Alvorada. Os investigadores acreditam que a cópia foi entregue a Bolsonaro.

PERIGO - O caso do carro-bomba: o delegado Marcelo Fernandes localizou o caminhão e prendeu o mentor do atentado, que tinha um verdadeiro arsenal em seu apartamento
PERIGO - O caso do carro-bomba: o delegado Marcelo Fernandes localizou o caminhão e prendeu o mentor do atentado, que tinha um verdadeiro arsenal em seu apartamento (Fotos/Reprodução)

O general ainda não expôs publicamente sua versão sobre a acusação. Sabe-se, no entanto, que ele nega ter apresentado o plano golpista ao presidente. A reunião no Alvorada no mesmo dia da impressão do documento teria sido uma coincidência. Em relação ao “Punhal Verde e Amarelo”, justifica que era apenas uma avaliação de cenário para o caso de um conflito — análise, segundo ele, que é praxe no meio militar. A defesa de Mario Fernandes avalia que o depoimento do irmão vai ajudar a desmantelar a tese de que o general é um extremista. Como os dois são muito próximos, não haveria lógica em considerar que um deles planejou o golpe enquanto o outro agiu para evitar que o pior acontecesse. No dia 24 de dezembro, Marcelo foi acionado diante de um alerta de bomba no aeroporto, encontrou a caixa com os explosivos, localizou o caminhão suspeito e prendeu o autor do atentado fracassado, o gerente de posto de gasolina George Washington de Sousa, que guardava com ele um arsenal.

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Alexandre de Moraes já recusou o pedido de libertação feito pela defesa de Mario Fernandes, que se diz injustiçado. “Ele jamais atuou para colocar a vida de quem quer que seja em risco”, afirma o advogado Marcus Vinícius Figueiredo. Preso há quase 200 dias, o general recebe pouquíssimas visitas — basicamente de familiares. Marcelo, por sua vez, assumiu a chefia da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais. É uma repartição da Polícia Civil responsável por investigar casos de estelionato e golpes — financeiros, diga-se. Nada parecido nem tão grave quanto o que aconteceu na véspera do Natal de 2022.

Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946

 

Delegado do AM, policiais e vereadora são presos pela PF por sequestro e tortura de homem em Roraima

oc0526 Prisões ocorreram na manhã desta quinta-feira (22) no Amazonas e em Roraima. Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação também cumpriu outros mandados de prisão temporária e de busca e apreensão na Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Alvos da PF (da esquerda para a direita, no sentido horário): delegado Adriano Félix, vereadora Adriana, o empresário Lidivan Reis, agente Álvaro Tibúrcio, agente Edmilton Freire, PM Jan Elber, e o empresário Matheus Possebon — Foto: A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (22) o delegado da Polícia Civil do Amazonas Adriano Félix Claudino da Silva, a vereadora Adriana Souza dos Santos, e outro três policiais por envolvimento no sequestro e tortura de um homem em Roraima. A ideia deles, segundo a PF, era roubar uma carga de cassiterita extraída ilegalmente da Terra Indígena Yanomami.

(CORREÇÃO: o g1 errou ao informar que o empresário Matheus Possebon havia sido preso na operação. Na verdade, ele não foi localizado e permanece foragido. A informação foi corrigida às 10h03 de sexta-feira, 23).

A lista completa de presos inclui:

  • Adriano Félix Claudino da Silva - delegado da Polícia Civil no Amazonas;
  • Álvaro Tibúrcio Steinheuser - policial civil no Amazonas;
  • Edmilton Freire dos Santos - policial civil no Amazonas;
  • Lidivan Santos dos Reis - empresário do ramo de venda de carro e investigado por tráfico de drogas em outra ação;
  • Jan Elber Dantas Ferreira - policial militar em Roraima;
  • Adriana Souza dos Santos - vereadora no município de Caracaraí, no interior de Roraima, e escrivã da Polícia Civil de Roraima.

O empresário do ramo artístico musical, Matheus Possebon, também é investigado e teve mandado de prisão temporária expedido pela Justiça, mas não foi preso e está foragido. Ele já foi preso pela PF na operação Disco de Ouro, que também teve como alvo o cantor Alexandre Pires, por ligação com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.

g1 tenta localizar a defesa de todos os investigados.

As investigações apontam que os envolvidos formaram um grupo criminoso para escoltar cargas de minérios extraídos ilegalmente da Terra Indígena Yanomami, prestar serviços de segurança de forma clandestina e apurar a ocorrência de roubos de cargas de forma paralela à atuação estatal.

O sequestro aconteceu no município de Caracaraí, em fevereiro de 2023. À época, a Polícia Militar informou que a vítima estava trabalhando quando foi algemada, ameaçada e agredida com tapas e choques elétricos (entenda mais abaixo).

Batizada de Operação Jeremias 22:17, a ação da PF desta quinta cumpre sete mandados de prisão temporária e 13 de busca e apreensão em Roraima, Amazonas, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. Eles foram determinados após investigações com participação direta da Promotoria de Justiça de Caracaraí.

De acordo com a PF, na busca de um suposto roubo de cassiterita, os policiais do Amazonas sequestraram e torturam o homem para que ele indicasse o destino da carga. As investigações apontam a participação de policiais de Roraima em apoio aos do Amazonas.

Sequestro e tortura

Os crimes aconteceram no dia 8 de fevereiro de 2023 na vicinal 3, em Caracaraí, localizado ao Sul de Roraima. A vítima sofreu lesões nos pulsos e marcas de tapas no peitoral. Além disso, ele sofreu choques na região do tórax.

À Polícia Militar, o pai da vítima relatou que estava trabalhando em um terreno com o filho quando um carro parou no local e três homens desceram do veículo. Segundo o relato, os homens se identificaram como policiais civis e um deles perguntou a localização da vicinal 4, onde estaria ocorrendo uma briga. Por conta disso, em uma motocicleta, a vítima os acompanhou até o local.

No entanto, quando chegou ao local indicado, o homem foi algemado e ameaçado com tapas e choques elétricos. Além disso, os suspeitos afirmaram que incendiariam a motocicleta dele caso não colaborasse.

Com a vítima, eles seguiram até o município de Iracema e posteriormente seguiram para Mucajaí. Dentro do carro, a vítima foi pressionada a cerca de alguma informação sobre um caminhão graneleiro que, segundo os suspeitos, foi furtado e transportava cassiterita, um metal usado para produzir ligas.

Durante o interrogatório, outros três homens chegaram ao local e informaram que pertenciam ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Na ocasião, eles pegaram o celular da vítima para averiguar se ele estava envolvido no caso ou se tinha informações sobre o paradeiro de um outro homem.

Ao fim da ação, eles liberaram a vítima e, inclusive, lhe deram R$ 60 para que ele pegasse um ônibus rodoviário e retornasse para Caracaraí. Os dois policiais do Amazonas foram presos à época, após serem denunciados.

Fonte: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2025/05/22/delegado-do-am-policiais-e-vereadora-sao-presos-pela-pf-por-sequestro-e-tortura-de-homem-em-roraima.ghtml

Ex-policial do BOPE é preso por treinar traficantes da segunda maior facção do país, no RJ

oc04101 Um ex-policial militar do BOPE, o Batalhão de Operações Especiais do Rio De Janeiro, foi preso nesta semana durante uma ação contra o tráfico de drogas. Ronny Pessanha de Oliveira, conhecido como “Caveira”, é acusado de usar sua experiência como policial de elite para treinar integrantes da segunda maior facção criminosa do país. Ele ensinava desde o manuseio de armas até táticas de guerrilha, de forma a garantir que os criminosos soubessem como enfrentar os rivais e as forças de segurança. Ronny foi detido na comunidade da Muzema, zona oeste do Rio, durante operação integrada das polícias Civil e Militar contra a dominação da região.

Psicólogo que torturou e matou ao menos 16 gatos é preso no DF

oc0331 Indiciado por maus-tratos e pela morte de pelo menos 16 gatos, o psicólogo Pablo Stuart Fernandes Carvalho foi preso preventivamente na noite desta terça-feira (25/3). O caso revelado pelo Metrópoles mostrou que o homem adotava gatos tigrados para fazer rituais macabros com os felinos.

Pablo Stuart estava na casa da mãe, que abriu os portões no momento da chegada dos policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA/PCDF). O suspeito não reagiu à prisão.

O inquérito policial que denuncia Pablo por tortura aos felinos foi enviado ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) na sexta-feira (21/3). O órgão formalizou a denúncia e encaminhou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. A corte aceitou e expediu o mandado de prisão contra o psicólogo.

O indivíduo está na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde deve passar por audiência de custódia nesta quarta-feira

O que aconteceu

  • A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais instaurou, em 13 de março, inquérito policial contra Pablo Stuart Fernandes Carvalho.
  • A DRCA havia apurado que, desde o ano passado, o psicólogo procurava protetores de animais pedindo para adotar gatos de pelagem cinza e rajada. Um mês após uma adoção, ele inventava histórias para as doadoras afirmando que os bichos haviam sumido e pedia outro animal.
  • Ele começou a adotar em setembro de 2024. De lá para cá, foram diversos gatos adotados, todos da mesma pelagem.
  • Pablo usava discurso emotivo para continuar adotando os bichinhos sem que as cuidadoras desconfiassem.
  • Após a divulgação inicial do caso, a maior dúvida era o que havia acontecido com os gatos. Agora, com áudios e depoimentos de testemunhas, a principal suspeita é que Pablo tenha matado ao menos 15 felinos.
  • Ainda não se sabe se o rapaz de 30 anos atuava com alguém ou sozinho. Também não é possível afirmar por que Pablo preferia gatos cinzas e rajados.
  • A defesa de Pablo nega todas as acusações.

Mais de 20 gatos

Protetoras que doaram gatos ao suspeito contaram que, após o Metrópoles revelar o caso, pelo menos outras cinco cuidadoras surgiram para relatar que também entregaram bichinhos para o autor. É possível que o número de gatos adotados, maltratados e mortos por Pablo passe de 20.

“Ao menos cinco protetoras nos procuraram nos últimos dias para contar a mesma história de que ele adotou gatos tigrados e cinza”, conta uma doadora, que solicita condição de anonimato.

As cuidadoras eram enganadas pela lábia de Pablo, que cumpria todos os requisitos para a adoção de cada gato. Em todos os casos, ele tinha de responder a um questionário de 16 perguntas informando dados pessoais e profissionais e dizendo os motivos para querer adotar os felinos.

“Além disso, pedimos vídeos e fotos da residência e fazemos acompanhamento pós-adoção. Ele era muito convincente em todas as questões”, explica a protetora.

Veja imagens de alguns dos gatos adotados por ele:

16 indiciamentos

O titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA), Jônatas Silva, indiciou Pablo pela morte de 16 gatos. Agora, ele deve responder pelo crime de maus-tratos contra cada felino individualmente. O delegado também já pediu a prisão preventiva do suspeito.

CRP cancelado desde 2023

Psicólogo desde 2017, Pablo Stuart cancelou o próprio registro profissional no Conselho Regional de Psicologia do DF (CRP-DF), em 2023. O órgão reiterou que apura providências cabíveis para “reforçar a provocação às autoridades competentes” e demonstra solidariedade com aqueles que ficaram profundamente consternados com a situação narrada pelas reportagens.

“Este Conselho repudia qualquer ato de violência e crueldade e coloca-se à disposição para colaborar com as investigações”, frisa o CRP-DF.

Defesa

A defesa de Pablo Stuart foi contatada para falar sobre as novas denúncias. O advogado Carlos Silva negou veementemente todas as acusações e reiterou a versão de que os gatos fugiram no mês passado, em um momento de surto do rapaz.

Ele ainda destacou que o cliente encontra-se abalado e colhe prejuízos emocionais e financeiros com as denúncias. De acordo com Carlos Silva, o próprio síndico do condomínio em que Pablo mora poderia confirmar que os gatos nunca sofreram qualquer tipo de violência.

“Infelizmente, pessoas estão se aproveitando do episódio para lançar acusações absolutamente falsas e infundadas sobre um fato que nunca ocorreu. Além disso, de acordo com os depoimentos, é rigorosamente falsa a afirmação que ‘cadáveres de gatos’ teriam sido encontrados, próximo do residencial. Inclusive, a defesa pede que a PCDF examine todos os materiais coletados para comprovar que Pablo não tem relação com nenhuma atitude de maus-tratos. A defesa informa, ainda, que o cancelamento de registro de psicólogo de Pablo se deu de forma voluntária, pois, à época, atuava como consultor de RH em uma empresa e não tinha necessidade de realizar atendimentos clínicos e profissionais.“

Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/na-mira/psicologo-que-torturou-e-matou-ao-menos-16-gatos-e-preso-no-df

Policial federal é preso suspeito de facilitar embarque de drogas no Aeroporto de Manaus

 
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